“Gostava de voltar ao mundo com muita facilidade para qualquer coisa”
Helena Vaz da Silva entrevista Maria Helena Vieira da Silva, 1979
"BICHO chama-lhe, Arpad, aquele mítico marido de que todos quantos conhecem Maria Helena Vieira da Silva ouviram falar. Arpad Szenes, pintor grande, ele também, exilado húngaro a quem o Portugal salazarista por distracção provinciana recusou dar pátria durante a guerra, quando ele queria tornar-se português, como sua mulher então era. Arpad, que conta Maria Helena - quando se conheceram, se ria do esforço dela para ser pintora. Arpad que é o pai, o irmão, o amigo e o interlocutor de sua mulher, Maria Helena Vieira da Silva. Arpad que, quando fala, parece ter imensa idade e quase nenhuma.
Mas "bicho" é também a gata que vive lá em casa, que parece participar, tal como as outras. pessoas (e objectos) que fazem parte da "entourage" de Vieira da Silva, da certeza de estar no seu lugar.
Maria Helena (“Vieirá", como lhe chama Guy Wellen, o seu assistente e amigo que a protege dos assaltos intempestivos de pessoas como eu) falou comigo no "atelier", no jardim da sua casa de Paris, uma casa baixa e muito velha, mantida incólume entre prédios de construção mais recente. Tomávamos chá, falávamos muito e eu ia-me esquecendo de ligar o gravador.
"Hoje, aos 70 anos creio que posso confessar que não sei se segui o caminho que devia seguir". Confissão surpreendente de uma mulher que, para os amigos, é um mito e, para o público, um génio incontestado.
Helena Vaz da Silva
P. - Na maior parte dos pintores há fases, há ciclos que reflectem uma busca, uma procura. Um caminharem direcção a. Na sua obra, pelo contrário, há uma tal continuidade temática e formal que as palavras que ela me sugere são Revelação, Iniciação.
Quando olho para a sua pintura, a primeira coisa que me vem à cabeça é que V. é detentora de um segredo que vai revelando progressivamente nos quadros que pinta. Como é que V. sente a sua pintura, mais como procura ou como revelação?
M.H.V.S. - Não... Eu não sei um segredo. Pode ser que eu saiba, mas não sei...
P. - Não sabe que sabe...
M.H.V.S. Se há uma grande continuidade naquilo que eu faço é porque não me tenho deixado impressionar pelas modas passageiras. As coisas passageiras são passageiras e há muita gente que as torna a sério.
Agora, isso que me diz é muito bonito...
P. - Eu digo porque, se se puser os seus quadros lado a lado, às vezes é difícil dizer quais são os de 1940 e quais são os de 1970, e muitas vezes nos últimos encontra-se uma espécie de regresso ao princípio.
M.H.V.S. - Sim, sim.
P. - E os azulejos são facetas de uma mesma realidade. Facetas e mais facetas caminhos e mais caminhos...
M.H.V.S. - As teias de aranha, não é?
P. - Nos seus quadros eu sou mais sensível aos caminhos do que às teias de aranha.
M.H.V.S. - Àsvezes a impressão de que os meus quadros são uma viagem que eu vou fazendo pela vida fora. E, quando se viaja, os caminhos são sempre novos, nós somos sempre novos.
P. - E o que é que encontrou de importante pelo caminho?
M.H.V.S. - É difícil dizer... Quando me encontro diante de uma tela, sinto uma grande dificuldade. As palavras que eu possa dizer, quando estou a pintar não têm relação nenhuma com as especulações filosóficas que se possam fazer a respeito dos quadros. O que eu possa dizer tem mais que ver com os cálculos do que com palavras. Uma porção de luz mais aqui… uma questão de medida e de dimensão das cores que estou a empregar...
P. - Mas o que é que a leva a começar um quadro?
M.H.V.S. - É uma coisa que faz parte de mim como a respiração.
Quando começo um quadro, é uma questão de medidas e de proporção, e dentro da medida e da proporção é que vou descobrindo coisas. O quadro revela-me paisagens ou interiores, ou caminhos, coisas que eu não previa.
P. - Os títulos dos seus quadros, quer falar deles? Eles são de um modo geral neutros, muito concretos, postos como que sem alegria ou sem querer.
M.H.V.S. - Eles são necessários para saber onde estão os quadros. Se não fossem não os punha. Ou punha só de vez em quando, não punha sempre.
P. - Mas quando se põe um título de certa maneira fixa-se o quadro.
M.H.V.S. - O quadro tem de aceitar o titulo. E há títulos que o quadro não pode aceitar. Eu gostava de dar bons títulos, mas tenho poucas ideias. Já me tem acontecido mas é muito raro.
P. - Lembra-se de algum quadro a que pôs um título com que esteja satisfeita?
M.H.V.S. - Há um quadro muito grande que está no Centro Beaubourg, que foi comprado pelo Estado francês e que era muito difícil porque é um quadro preto. Todas as vezes que eu pegava no quadro, a certa altura tinha de parar porque já não via nada. Eu trabalhava três dias, então o quadro começava a brilhar por todos os lados e eu não via nada. Um dia eu estava a ouvir a rádio e ouvi "une entreprise impossible". Pensei "isto é mesmo este quadro". E chamei-Ihe assim. No entanto aquele quadro representa para mim outra coisa. Eu vivi muito tempo ao pé do metro Glacière. Foi uma época muito feliz da minha vida. O quadro lembra-me quando eu passava por ali à noite... Por isso o quadro não é nada triste. Mas eu também não sabia quando o comecei que ele ia ser para mim isso,essa "entreprise impossible" que depois lhe chamei.
P. - Mas já o queria fazer preto?
M.H.V.S. - Não, ele começou por ser avermelhado e depois é que começou a escurecer e se tornou um quadro preto.
Sabe, o facto de pintar é um mistério... Olhe, vou-lhe contar uma história. Quando a Sophia de Mello Breyner veio em 75 pedir--me para fazer um cartaz para o 25 de Abril, eu fiquei logo com muito entusiasmo para o fazer. Tínhamos passado uma tarde a conversar, eu gosto muito de estar com aSophia, e ela tinha-me contado muitas coisas. Eu, logo que ela se foi embora, peguei num papel, sem pensar em coisa nenhuma e fiz uma guache muito rapidamente. Quando acabei pensei “eu gosto disto mas vão pensar que fiz um vitral, uma "bondieuserie". Fiquei na ideia que aquilo parecia uma igreja, que achariam uma coisa absurda. Depois comecei outro com pessoas na rua como ela me tinha dito para fazer. Quando ela voltou, eu disse "olha fiz isto, mas saiu uma coisa absurda". E ela achou que o vitral estava certo, era o Largo do Carmo. Então lembrei-me que, quando lia os jornais, que eu li muito nessa altura, o que eu via à minha frente era o Largo do Carmo, que é um sítio que eu conheço muito bem e de que gosto muito. Para mim, Revolução era o Largo do Carmo. Mas quando pintei, eu via mas não via. Estava tão preocupada com os meus pincéis, com a força e com a intensidade, que me esqueci de tudo. É uma espécie de técnica da pintura que me absorve completamente e o lado descritivo, literário e filosófico da pintura vai---se embora. Por isso é tão difícil falar da minha pintura.
P. - Na sua infância morou no Chiado, na Rua das Chagas?
M.H.V.S. - Nasci lá mas os meus pais venderam a casa quando eu tinha dois anos. O meu pai morreu na Suiça, a minha mãe voltou para Lisboa e fomos morar para uma casa do meu avô, que era director do Século; a casa que depois viria a ser o Hotel Avis. Lembro-me que havia duas moradias, uma que lhe era destinada mas que ele nunca usou e havia um andar de cima onde a minha mãe e eu nos instalamos. A casa era uma casa enorme, com salões que nunca ninguém usou. A recordação que eu tenho dela é que era uma casa com muitas coisas que eu não sabia para que é que serviam.
A casa da Rua das Chagas só a conheci depois quando fui visitar as pessoas que lá moravam.
P. É muito mais tarde que V. faz um quadro sobre a Rua das Chagas.
M.H.V.S. - Sim, a minha mãe sempre me falou muito da beleza dessa casa. Lá a gente tem a impressão de que o Tejo entra pelas janelas.
Mas a casa onde morávamos tinha um grande jardim. Em baixo vivia um tio meu que não era casado e que vivia como um "squatter". Tinha um criado para o servir mas quase não tinha móveis, Havia uns radiadores mas estavam sempre frios, havia uma grande casa de caldeira que a mim me parecia o inferno com diabos... mas nunca estava acesa. Havia um bilhar mas não se jogava bilhar, havia uma grande sala de baile mas nunca havia bailes. Tinha também um elevador que não andava. Ah, havia a cozinha do meu tio com um fogão enorme de ferro e esse fogão estava sempre apagado. Depois ele casou-se com uma inglesa e a minha tia mandou instalar um fogão a gás muito pequenino.
Eu perdia-me naquela casa, havia muita luz na rua e eu adorava passear-me pela casa e ver a sombra das árvores. Tinha muita poesia.
P. - Viveu sempre muito sozinha?
M.H.V.S. - Sim, sempre sozinha, muito poucos amigos e mesmo na família eu fui a mais velha da geração, só tive primos mais novos.
A família do meu pai creio que está extinta há muitos anos, nunca me apareceu nenhum parente pelo lado Vieira da Silva.
Mas eu tinha uma vida muito intensa. O meu pai trazia para casa os livros que mandavam para o jornal. Eu lia tudo. Tinha uma grande sabedoria sem saber que a tinha.
P. Começou a pintar muito nova?
M.H.V.S. - Comecei. Mas eu não tinha facilidade como certas pessoas têm. Eu passava horas a esforçar-me para obter uma certa coisa que queria.
P. - E ainda hoje é assim?
M.H.V.S. - Sim, ainda é.
P. - Está muito tempo a trabalhar a coisa por dentro antes de a pôr no papel?
M.H.V. S. - É trabalhando com a mão que as coisas saem. Mas não. é fácil, é preciso muita paciência.
P. - Como é que sabe que um quadro está no fim?
M.H.V.S. - Chega-se a um ponto em que eu penso que não posso fazer mais nada. Mas às vezes não posso fazer mais nada e não estou contente.
P. Passa muito tempo com um quadro?
M.H.V.S. - Pode levar sete anos como aconteceu com aquele preto de que, já lhe falei. ou sete meses ou sete dias. Eu gosto de guardar uma coisa, mesmo as que fiz rapidamente, que é para ter a certeza de que estou contente.
P. - Custa-lhe estar muito tempo sem pintar?
M.H. V. S. - Custa-me ser interrompida.
P. - Tem períodos em que pinta e períodos em que pára?
M.H.V.S. - Só paro quando me obrigam a parar, mas o contacto com as pessoas de passagem não é bom para mim. Eu tenho o que os franceses chamam' "esprit d'escalier". Digo uma coisa e depois volto atrás... Ou ando os encontros são muito rápidos, às vezes lembro-me duma coisa e já não tenho ocasião de a dizer a essa pessoa e isso para mim é um sofrimento.
P. - V. prefere estar só? A sua relação com a solidão é muito real, não é?
M. H. V. S. - Eu conheci a solidão na adolescência sobretudo, e quando era nova não gostava da solidão... mas desde que casei nunca mais conheci solidão nenhuma porque o meu marido é muito sociável, e temos sempre muita gente à volta. A solidão hoje para mim consiste em ver gente de mais. Mas isso é a nossa época que tem a culpa. A gente encontra pessoas muito interessantes, mas não pode cultivar uma amizade porque todos têm muito que fazer, estão sempre a viajar. Penso que a gente só vê regularmente as pessoas com quem trabalha.
P. - Porque é que aparecem raramente pessoas ou animais nos seus quadros?
M.H.V.S. - Eu gostava que aparecessem... Já fiz muitas tentativas.... Eu queria que a figura humana entrasse nos meus quadros, mas queria que ela entrasse sozinha, por si.
P. - E ainda não conseguiu?
M.H.V.S. - Às vezes. Elas aparecem, depois vão-se embora.
Há três ou quatro anos eu fiz um retrato do Malraux e um retrato do René Char. Era muito difícil fazer em gravura e sem modelo porque
eles não pousaram. Gostei muito.
Sabe, eu gosto muito de música e às vezes ouço na rádio os programas com os jovens músicos a explicarem aquilo que fazem e sinto que não é isso... que não se pode....
P. - Hoje há o vicio de fazer as pessoas falarem daquilo que não é explicável. É o que eu estou a fazer agora....
M.H.V.S. - Mas isso não é só com os poetas, com os músicos e os pintores. É também com o carpinteiro. Ele não pode explicar como faz uma mesa.
P. - Mas se se pedir ao carpinteiro que explique a sua relação com a matéria, com os objectos, com as suas mãos, que nos fale do seu ritmo de vida, talvez isso nos ajude a fazer uma mesa.
M.H.V.S. - As aspirações de um artista parecem sempre pretensiosas quando se pretendem pôr as palavras.
P. - Nunca se sentiu tentada a fazer coisas fora da pintura?
M.H.V. S. - Senti-me tentada, mas eu sou muito desastrada. Eu nunca tive facilidade em coisa nenhuma na vida. Nem de mãos, nem de memória, nem de nada. A única coisa em que eu tinha facilidade era nos jogos de adivinhar coisas quando era pequena e era também naquele jogo "se fosse uma flor, se fosse. uma música". Isso consolava-me dos meus desastres noutras coisas. Por exemplo no jogo do prego, na praia, nunca passei das primeiras. Cheguei a comprar um prego para jogar sózinha e nunca conseguia.
P. - Lembra-se... havia a flecha, as campaninhas, os martelinhos, essas eram das mais difíceis....
M.H.V.S. - Sabe o que eu penso às vezes: eu não tenho muito apego à vida, a tornar a viver. Mas gostava de voltar ao mundo com muita facilidade para qualquer coisa. Porque tudo o que eu fiz na minha vida me custou tanto...
P. - Põe a hipótese de que haja regresso, de que se possa viver outra vida?
M.H.V.S. - Não. Mas se eu voltasse a viver gostaria de viver noutra terra, não nesta. Neste planeta, os homens não fazem senão matar-se uns aos outros.
P. - Acha que isso está inscrito no mais profundo da natureza das pessoas deste planeta ou acha que pode mudar? Se existem pessoas que vivem já uma espécie de vida sem competição e sem agressividade, não serão elas faróis que apontam para uma outra vida possível?
M.H.V.S. - Acho que sim, acho que deveria ser assim, mas não sei.
Em Portugal, as pessoas parece que esperam sempre que as coisas lhes venham de fora, que as coisas lhes aconteçam. Mas é de dentro que elas vêm, é preciso sermos nós a criá-las.
P. - O que me faz confusão nos portugueses é que têm espantosas qualidades que no fim nunca resultam. E uma espécie de povo abortado.
M.H.V.S. - O Oliveira Martins dizia que os portugueses foram admiráveis no mar, que em terra nunca se souberam organizar.
P. Os do mar representam a dimensão utópica e idealista dos portugueses. Os da terra são sobretudo adaptáveis e oportunistas sabendo um pouco de tudo e nada a sério.
MH.V.S. - O mal de Portugal é que as pessoas de valor deixaram Portugal.
P. - Por alguma razão... O 25 de Abril tocou-a?
M.H.V.S. - Sim, tocou-me e interessou-me muito. Há muito tempo que eu achava que o Salazar e o Franco tinham de acabar, aliás eu sempre pensei que Portugal e Espanha têm de andar juntos...
Vejo que as pessoas estão muito pessimistas, e estavam muito optimistas antes. O que eu vejo é que nos jornais há uma grande liberdade, fala-se de tudo e por isso há mais esperança do que antes. Dantes sabia-se que as coisas não estavam certas mas não se falava disto.
P. Que importância tem para si a sua raiz portuguesa?
M.H.V.S. - Eu não tenho muito a noção nacional, mas o que eu sei é que a minha família era toda de origem portuguesa. (Entra Arpad Szenes) - Vous avez vu le filme "L'Amour de Perdition", d'Oliveira?
P. Oui, au Portugal on 1'a vu à la televi:on en noir et blanc et en épisodes. Mais vous, vous l'avez vu tout entier à Paris. Qu'en pensez-vous?
M.H.V.S. - Achei de uma beleza enorme. Então para um pintor o filme dá um grande prazer. Obrigaram-me a sair antes das nove da manhã, custou-me imenso chegar ao cinema, mas depois fiquei agarrada à cadeira até às duas da tarde sem arredar pé.
O Manoel de Oliveira fez as coisas com um tal amor... há detalhes maravilhosos. Lembro-me da cena de Teresa na cama com uma colcha encarnada e ela muito branca com umas cortinas brancas e a janela em que se adivinhavam umas galinhas lá fora....
Durante dias e dias o filme andou comigo. É um filme tão "raffiné" que dificilmente terá sucesso junto do grande público. Lembrou-me por um lado as tragédias gregas e por outro lado " um western.
P. - Procuram-na muito para entrevistas?
M.H.V.S. - Dou poucas entrevistas. Mas ainda no outro dia houve uma brasileira que pôs precisamente aquilo que eu lhe tinha dito para não pôr... Devia achar o resto pouco sensacional.... É isso que eu acho no jornalismo. Às vezes põem uns títulos que não têm nada a ver como que lá vem...
P. - O jornalismo tem isso. Se por um lado é apaixonante e nos dá uma maneira de olhar que nos fica como uma segunda pele, por outro…
M.H.V.S. - Há uma coisaque me impressiona na televisão que é ver o "speaker" falar de uma grande tragédia e passar com o mesmo ar à coisa seguinte. E nós próprios, as pessoas, também já estamos assim. Nós vemos e lemos tantas coisas e sentimos que não podemos fazer nada...
P. - A única coisa que talvez se possa fazer é lutar pela transformação das consciências das pessoas. Tentar acudir às catástrofes, caso a caso, nada resolve.
M.H.V.S. - Transformar as consciências, parece-me que não é possível. Essas coisas muito más que acontecem dependem de uma minoria que, como certas bolinhas em certos jogos, caem sempre em certos buracos. São sempre certos sádicos que vão parar às polícias, são sempre certos ambiciosos que vão parar ao poder e as pessoas que não fariam o mal que eles fazem não vão ter a esses lugares. É uma minoria. Mas o mal é muito activo e alastra. Há coisas que acontecem depois à volta das pessoas com quem se passou um crime que a Imprensa desconhece e que são impressionantes.
Com uma pequena distração pode-se fazer muito mal. Eu quando era nova partia sempre as coisas de que mais gostava. Por exemplo, umas jarras da Roménia de que eu gostava muito... Depois fui aprendendo....
BIOGRAFIA
VIEIRA DA SILVA, hoje de nacionalidade francesa, nasceu em Lisboa em 1908. O pai morreu na Suíça quando era muito pequena e passou a viver só com a mãe, em Lisboa, até aos 20 anos. Parte então para Paris onde estuda escultura e pintura, conhece Arpad Szenes com quem casa em 1930. Em 1933 faz a sua primeira exposição individual em Paris.
Em 1935, Lisboa vê pela primeira vez a pintura de Vieira da Silva, por iniciativa de António Pedro. Vive e trabalha em Portugal durante quase dois anos. Em 1940, com o começo da guerra, tenta instalar-se definitivamente em Portugal, mas, não conseguindo obter a nacionalização para seu marido, parte para o Brasil onde reside até 1947, exercendo grande influência nos jovens artistas brasileiros e contactando com os mais conhecidos nomes das artes e letras daquele país.
Desde então, reside permanentemente em França, em Yevre-le-Chatel. Tem quadros nos principais museus estrangeiros. Recentemente doou uma colecção de desenhos seus e de Arpad Szenes ao Museu de Arte Moderna de Paris.
Tem-se dedicado muito à gravura, ilustração de livros e realização de vitrais.
Recebeu numerosos prémios e condecorações, entre os quais o "Grande Prémio: Internacional na Bienal de S. Paulo" (1961), o "Grande Prémio Nacional das Artes" de Paris (1963) e o grau de "Comendador da Ordem das Artes e das Letras" (1962).
Em 1956 e 1969/70, realizaram-se em Lisboa exposições de obras suas. Duas grandes retrospectivas tiveram lugar na Fundação Gulbenkian em 1970 e em 1977.