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Media e Democracia

Intervenção de Helena Vaz da Silva no Seminário Internacional Media e Democracia, em 2000

Publicação · 2000-03-14
CNC

Sou jornalista, há tempos afastada da actividade profissional diária, mas mantendo sempre um interesse pelas fronteiras ténues entre intervenção política e intervenção cívica e pelas questões nunca resolvidas da ética e da deontologia num mundo onde tudo se quer comprar, inclusive os jornalistas.

Estive uns anos ausente do país e espanto-me com alguns fenómenos que vim encontrar no meu regresso: dos meus amigos e colegas encontrei uns convertidos a assessores de imagem de ministros ou donos de empresas de comunicação e eventos; outros acomodados a soldadinhos de grandes grupos de comunicação geridos por homens de negócios e, enfim, alguns pré-reformados com estatuto de senadores a quem a disneylândia em que vivemos permite umas flores, à laia de despedida. Já não há tertúlias nem gritos nas redacções. Tudo normalizado. Não sei se por aí alguém se interroga sobre o estado da nossa arte, mas não me chegam os ecos.

Estranha arte a nossa que domina o planeta e nos tem a nós dominados. Em nome de quê ou de quem?

(...)

O século que agora começa, embora se caracterize sem sombra de dúvida por uma aceleração de descobertas, é, no entanto, previsível. Sabemos que será o século da informação generalizada, que o conhecimento será a grande fonte de poder, que o ambiente será uma preocupação comum aos cidadãos. Há, no entanto, uma coisa que não sabemos: se os cidadãos assumirão ou não a sua cidadania. Será do seu grau de participação que depende a face do futuro. Quem ousará dizer que a influência dos media não será determinante nesta escolha essencial?

Seminário Internacional Media e Democracia
organizado pelo Centro de Investigação Média e Jornalismo (CIMJ)
Lisboa, 14 de Março de 2000

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